terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dos sussurros

* no fim da noite *
Ele chegou na minha vida como aquele vento que levanta a saia quando a gente menos espera.
E você fica atabalhoada - constrangida por assim dizer - com a possibilidade de meio mundo de pessoas te enxergando do avesso. Vulnerabilidade é o nome disso.
Ele chegou na minha vida como aquela manhã de domingo que só te faz pensar em brigadeiro, filme antigo e fundo de rede. Aconchego.
Ele chegou desmontando, reconstruindo, cimentando e pincelando tudo. Me reinventou.
E, de repente, ele estava ali...trocando a mobília, pintando a parede de carmim, rearrumando as gavetas...jogou fora a fechadura antiga e me deu outra chave. 
- Mas o que diabos você pensa que está fazendo?
Um sorriso. Aquele de quando você rir com os olhos e eu sinto na alma. Calei. Só senti.
De repente, eu-tão-convexa, só queria me encaixar na tua vida. E te ser e te morar e te ficar. Pra sempre.
Vem, amor. Que essa noite eu vou cantar pra você dormir. 




Ps.: Porque o celular descarregou antes de dizer que eu te amo. Boa noite, príncipe.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Do dia 27/11

* e de mim *
Dessa vez eu tentei me enxergar do avesso. 
E tentei encontrar algo pra dizer que os anos fizeram efeito e agora -de fato- sou uma mulher. Tentei canalizar as emoções, repartir as lembranças e compartimentalizar as experiências...
Em vão. 
Ali, em meio a tanta bagunça de sentimentos, eu achei uma criança assustada. Sentada num canto, cabeça baixa, cotovelos apoiados nos joelhos...
-"E agora?"
Os olhos me lembravam alguém que já fui. 
- Eu não sei...
E peguei-a nos braços. Meu passado e meu presente, de repente, caminhando lado a lado na mesma direção.






Ps.:" Lights will guide you home/ and ignite your bones/ and i will try to fix you..."

sábado, 22 de outubro de 2011

Dessa noite

* De quando meu silêncio conversa com o seu *

Essa noite eu olhei pra ele e permaneci assim algum tempo. Pensativa.
- O que foi? - ele indagou com aquela ansiedade pueril que eu tanto admiro.
- Nada. É que eu tava procurando algo em você que eu não ame.
- E encontrou alguma coisa? - ele perguntou já achando aquilo tudo muito engraçado.
- Sim...1 milhão de motivos pra amar mais ainda!


Ps.: Hoje eu acordei achando que todos os personagens ocupam o seu devido papel, dessa vez. A gente entende bem de finais felizes, meu amor.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Do entregar-se...

*...por não caber mais em si*

"A gente se entrega nas menores coisas".
Os olhos entregam - eu disse isso a você uma vez.
Não importa que a boca emudeça as palavras, que os pensamentos fiquem embaralhados, que as vontades se confundam com a razão....os olhos sempre entregam. Só nos resta entender de rendição, aprendi contigo.
Aprendi que não importa o quanto eu me faça forte, os joelhos sempre amolecem quando você está por perto. E eu vou ter que saber lidar com isso daqui pra frente.
Aprendi que as horas podem brincar de voar, só pra me deixar esse gosto de "queromaisdagente". Desde que você chegou, me chamo saudade.
Aprendi que, se eu me distraio cinco minutos, meu pensamento vai te buscar onde quer que você esteja. E te guarda comigo, que é teu lugar.
E se bem queres saber - não, eu ainda não aprendi a resistir ao teu sorriso. E dizer não aos teus desejos. 
Os teus efeitos ainda me causam consequência, e eu ando procurando uma forma de cura pra esse vício que é me envolver contigo. Inútil. 
Já te quero, tu sabes. Já te sou, tu reconheces. Já te amo - fica sabendo.


Ps.: Pra ele que pintou de vermelho, minha vida cinza.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

*Carta pra Deus*


*Pra falar do beija-flor*

Há muito tempo eu não paro pra rezar.
Não usarei a correria do dia-a-dia pra justificar minha ausência. Tu me sondas e reconheceria, no mesmo instante, meu exagero e descaso.
Também não contarei as vezes em que chamei o Teu nome nos momentos de angústia. Não foram poucas e eu bem sei que todas essas vezes traziam consigo um pedido, raramente um agradecimento.
Mas hoje, não por acaso, eu precisei parar cinco minutos dessa minha soberba e conversar Contigo. Porque, mesmo distante, ainda trago a fé em algo maior e aceito que, quando não caibo mais em mim, é na Tua mão que devo entregar-me. Me escuta, então.
Tu deves ter Teus motivos para podar as flores. Tu deves saber de cada nascer e pôr-do-sol e quem sou eu para questionar-Te as decisões. Se me desespero é porque sou fraca e ser humana me dá esse direito. Não evolui o suficiente, em espírito, pra entender de perder. Pra entender o porquê da flor no asfalto. Pra entender o beijo na pele fria, antes dona do abraço quente. Pra entender as mãos que, sem vida, não correspondiam ao meu aperto. Pra entender o porquê de tanto sono quando todos nós só esperávamos ver um último olhar castanho. Pra entender o porquê da boca fielmente cerrada se todos ansiávamos por um último sorriso - aquele sorriso!
Pede a ela que não se zangue pelo meu desassossego. Se bem a conheço, a essa altura, já me olha daí com aqueles olhinhos marotos pronta pra um "Ow, sua besta!" Diz a ela que, mesmo sem querer, mesmo sem concordar que era forte o suficiente pra passar por aquilo, eu atendi o chamado. Porque eu sei que ela me queria ali naquele momento pra, de alguma forma, não estar sozinha. Fiz o que tinha de ser feito.
Diz que não ando sorrindo ultimamente porque a desesperança transbordou esses dias mas que, se tudo der certo e ela me cuidar naquelas horas em que os maus pensamentos me machucam, hei de ficar bem. De me apoiar em cima dos joelhos, ainda bambos pelo susto, e tentar seguir em frente.
Diz a ela que sinto saudades e, se choro baixinho no travesseiro, é porque ainda tinha muito a ser dito em silêncio. Nunca fiquei constrangida. É que era mesmo verdadeiro.
Hoje eu precisei falar-Te. Mais do que todos os dias.
Cuida dela pra mim e, se não for pedir muito, cuida também de nós que ficamos. Ainda todo mundo perdido.



Ps.: Camila, meu beija-flor, procuro uma forma de seguir em frente. Quando e como conseguirei, não sei. Perdoa o egoísmo, mas ainda não consegui te deixar ir. Tu moras em mim.
Ps².: Sabe aquele pôr-do-sol? Você tinha razão sobre ele. É todo seu.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

*Daquele dia...*


*em que você deu uma pausa*


Ela pediu que eu dissesse qualquer coisa. Qualquer coisa dessa coisa que se diz quando Marraquexe fica longe. Inalcançável.
Ela pediu que eu cantasse Chico ou citasse Vinícius.
Que, junto com ela, ensaiasse um Nelson Gonçalves...algo que gritasse o que insistia-se emudecido.
Acho mesmo que, no fundo, ela queria zombar do Amor. Pra intimidá-lo, pra afugentá-lo, pra desobrigá-lo.
O que ela esqueceu é que ele, o bendito Amor, é meretriz de ponta de esquina. Despudoradamente cínico, passado o fim de semana, ele volta. Sandálias na mão, pedindo arrego. E sempre encontra uma porta aberta.
"Então vem..." - eu disse - "Pega na minha mão e vamos ficar em silêncio. Porque toda saudade merece dois segundos de atenção. Só por ser saudade."
E ela chorou.





Ps.: Sabe...se não tivesse sido especial, em algum momento, não existiria a lembrança. Não sinta medo. Ainda acho o avesso, o seu melhor lado.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

*Das coisas que eu queria te dizer*


*[Monó]logo*


Eu não tenho direito algum de exigir nada de você.

Nem de dizer que errastes nisso ou naquilo, quando nem sei do que trata o certo.
Nem de menosprezar teu esforço em me fazer bem, quando nem ao menos sei do que preciso.
Eu não tenho direito algum de pedir que me entendas, me escute e me guarde, se eu me fecho em cúpula pra evitar que te aproximes. Se eu digo não, pra esconder o sim. Se eu digo "vou", quando quero ficar.
Eu não tenho direito algum de pedir que você pare, se eu não impus meus limites. O que eu gosto, como gosto, quando gosto, tu não podes saber nem eu cobrar-te. Ainda estou te inaugurando em meus desejos e em minha vida. Ainda é tudo muito novo, o que me permite a insegurança e te justifica o descaso.
Não posso querer que realizes todos os meus sonhos e te personificar em minhas fantasias. É muita responsabilidade e teus ombros franzinos, já aprendi, não podem com o peso das minhas desilusões.
Não posso depositar em ti, as minhas esperanças de antigamente. Tu ainda estás um pouco longe delas e eu sou um tanto egoísta quando se trata de cuidar de mim.
Me entendas, criança. É que um dia, não muito distante, eu acreditei em amor.
Triste fim, podes imaginar.
Hoje, até a felicidade me parece duvidosa. Paciência.






Ps.: Pé ante pé...a gente chega em algum lugar. Sem pressa.

*E o que se pode fazer..."

*...nesse presente instante?*

Ando observando minha vida pelo lado de fora.
Catando os cacos, me livrando do supérfluo, aparando arestas.
E não vejo nenhum motivo pra retificar os caminhos...
pra entrelinhar o que vivi, pra deixar de lado o que sinto e o que ainda posso fazer.
Concordo com o compositor quando diz que "nada é divino, nada é maravilhoso" e ainda acho mesmo que temos de nos acostumar com isso.
Não se pode exigir de algo, que seja tudo aquilo que se espera ver. Assim como não se pode exigir de alguém que este supere o que você, no fundo, deseja ter.
Ao contrário, devemos apreciar o melhor de cada coisa. De cada pessoa. Já que é bem possível que, um dia, também nós fomos avaliados pela esperança de outrem e não superamos suas expectativas.
Não, ninguém bateu a porta em minha felicidade nem espezinhou do meu apreço. É só que eu cansei de esperar que me surpreendam.
O velho feijão com arroz ainda me serve.
E pra bom entendedor pingo ainda é letra.




Ps.: Não se preocupa comigo. Conheço meu lugar.
Ps².: "Não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração."

domingo, 15 de maio de 2011

*No mais...*

*...estou indo embora*

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. . . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura." (Caio Fernando Abreu)



Eu vou levando as nossas fotos.
É que me parece que parte da gente ficou petrificada naqueles momentos. Um gesto, um olhar, um sorriso...e me faz bem lembrar de você.
Eu vou levando uma ou duas esperanças também. De que vou ficar bem, de que tu também estarás. De que fizemos o certo.
Mas afinal qual é o certo e o errado disso tudo?
Talvez um dia a gente descubra...não hoje. Ainda cheira tudo a leite.
Eu vou deixando aquela minha frustração antiga. Não a use. Jogue-a fora junto com aquele ciúme velho, aquela decepção crônica. É que eu quero seguir leve.
Não como se não tivesse acontecido, mas como se já tivesse passado.

Melhor assim.


Ps.: E aqueles planos que eu fiz pra nós...sempre serão os nossos planos. Onde quer que esteja, ao realizá-los, lembre-se de mim. Estarei em algum lugar aí dentro.

Ps².: Porque há diversas formas de ser infinito. Fica bem.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

*Do querer*

*Des-coberta*

Tateia. Procura no escuro do claro qualquer coisa que me defina em tuas mãos. Que eu te caço, te laço, te amasso, te faço em pedaço. Aço.

Enxerga. Me lança aqueles olhares de fúria e gozo, retraídos por um tempo que não te pertence. Que eu mando parar o relógio, a cena, o 'time', seja lá o que diga não pra tanto sim.

Queira. Aconteça em minhas curvas, derrapa em minha boca e te estende em meu calor. Que eu te queimo com esse ímpeto que tanto assusta a mim e ao meu ego [auto]suficiente.

Uma, duas, três vezes...

Eu chamando seu nome baixinho pras paredes nao ouvirem

Razão de tanto desatino

Orquestra muda dentro de mim.


Ps.: Um dia ela me falou de saudades. É assim que se sente?

quinta-feira, 24 de março de 2011

*Do meu desafio*

*Casa*
Vou construir um casulo em mim pra você morar.
Só porque eu achei você meio assim sem teto, sem eira nem beira, nem chão.
Só porque eu quis um motivo pra te ter por perto, te guardar na estante, ao alcance das mãos.
Só porque no cinza, tu foi verde.
E no fim da história mal contada, a borboleta sempre fui eu.
"João de Barro, eu te entendo agora".


Ps.: Traga-me de volta.

quinta-feira, 10 de março de 2011

*Carnaval*

*Bodas de lírios*

Mandei ladrilhar toda a avenida.
É que eu fiquei sabendo que você viria com bumbos, serpentinas e fantasias.
Afinei cada instrumento pra soar teu ritmo e reinventei cada gesto pra somar teus pontos. Pra te julgar desenvolto.
Mandei que me pintassem Colombina, só pra ti, Arlequim da vida inteira.
Gritei pra o mundo que tu rimaria uma melodia só pra mim. Samba-enredo pra essa história onde a gente se encontra mesmo quando se desencontra.
Aí, quando prestes a colocar meu bloco na rua, tu me vens dizer que esse ano não tem carnaval. Que eu ponha o pijama e coe o café, pra gente dormir mais cedo.
Não tem problema. Também sei amar calada.



Ps.: Ai Mestre Cartola...dai-me forças.
Ps².: Minha Tulipa. Ainda te sou Eucalipto?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

*Desentendidos*

* Só pra você saber *

Quando eu falei em emoções fortes, pensei em roda gigante ou mesmo dois "loopings" de montanha russa. Pensei na gente rindo feito dois malucos, sem parar.
Não imaginei, sequer por um segundo, tufões e terremotos. Nem que tu fosse capaz de passar assim: arrastando, desordenando, bagunçando tudo aqui dentro.
Quando eu te pedi que acelerasse mais, pensei em adrenalina. Em vento, cabelos e sensações. Liberdade, até.
Não em atropelos, arranhões, machucados. Nem em você, espezinhando esse amor que só te guarda.
Quando eu quis aproximação, pensei em dormir de conchinha: meu corpo no teu e minha alma na tua. 2 em 1.
Não pensei em sobreposição. Em dependência ou subserviência. Nem em você me exigindo, me sugando, limitando.
Quando pensei em nós, eu desejei apenas rir ao lado teu. Rir de ser feliz. Rir [e] ser feliz.
Aí você não entendeu.
Que culpa tenho eu?






Ps.: Das lágrimas que eu derramei esse fim de semana. Todas suas. Bom proveito.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

*A dois*

*Meu compasso*

Ele foi a primeira pessoa que dançou conforme a minha música.
Não ousou, não perguntou, não criticou, nem interveio...
Dançou. Como se conhecesse acordes, notas e ritmo.
Olhei aturdida quando o vi mover-se tal qual eu desenhara.
Tive medo.
Sempre pareceu mais fácil traçar uma melodia e esperar a primeira falha do arranjo. O primeiro passo em falso, o pliê desajeitado, o tombo. Os ritmos, sempre distintos do meu, deixavam claro a possibilidade - aceitável - de ficar sozinha no salão.
Ninguém conhecia minha música, então não adiantaria tentar...no fim só me restariam bolhas nos pés e cansaço na alma.
Aahh o amor...maestro das mais lindas sinfonias. Autor das mais belas canções. Culpado pelas emoções.
Uma vida toda de espera e ele, agora, ensaiando meus passos. Bem ali na minha frente. Como se eu, platéia, o recebesse protagonista da minha vida inteira. Antes sem cor, hoje furta-cor.
E a surpresa maior chegando quando ele mandou parar a orquestra. Me armei em 'nãos', me calei em 'sim', me fugiu o talvez.
- É que sua melodia encaixa direitinho na minha letra...vem, dança comigo?
Foi aí que eu entendi que não era mais minha música e, sim, a NOSSA música.
Começou a ter sentido.
Não me sinto mais sozinha no salão.



Ps.: Pra ele que já tinha escrito a poesia perfeita da minha melodia, antes mesmo daquele carnaval.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

*Pra ele*

*Declaração*

É que hoje me deu uma vontade maluca de dividir o meu melhor sorriso com você...
e partilhar meu abraço,
e te contar meus sonhos, mesmo aqueles que insisto em destilar sozinha,
e te pedir que esqueça todas as vezes em que exigi solidão
- eu quero mesmo é presença -
e te ceder minha vida, meu quarto, meu edredom
e te oferecer meu colo, meu corpo, meu gosto
e te viver sem medo
e te deixar ficar
e te morar pra sempre...
Quer amar comigo?



Ps.: "Deixa estar que o que for pra ser vigora" (M.G)
Ps².: Porque desde que chegastes, não me sinto mais sem teto. Tu és minha casa.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

*Do adeus*


*...Que eu sempre quis dar*

Engraçado olhar as coisas assim hoje...de fora como quem assiste uma telenovela de quinta.
Tão distante que nem parece ter existido.
Às vezes penso que tudo não passou de tempo perdido e só eu - nessa minha teimosia quase eqüina - não me dei conta.
Desculpas? Não peça. Não espero. Nós dois sabemos que você não sente muito.
Perdão? Não espere. Ainda não atingi tal grau de evolução.
Façamos assim: enterrado numa caixa no fundo do quintal disso que se chama coração. E deixa lá!
Não fede, não cheira, não influi.
Passar bem.




Ps.: Porque eu ouvi a música. Espetáculo! Mas ninguém me avisou que era pra fingir. E o fato é que eu nunca tive vocação pra Pierrot.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

*Dos ais de todo mundo*

*Soldado*
"- Curiosidadezinha vagabunda, essa!"
Pensou enquanto cutucava aquele antigo ferimento de guerra.
No começo apenas um latejo, um desconforto, um qualquer. Aí a coisa toda foi se transformando, aumentando, distorcendo, cedendo, sangrando...Rendeu-se. Desertora que era de si mesma.
Antes da primeira lágrima, o nó na garganta. Sentiu vontade de gritar mas a voz emudeceu. Anos de combate ao vento, ao nada. Tanto esforço, tanta força.
Talvez ainda houvesse algo a ser dito, sentido, vasculhado. Talvez a linha que amarrava os pensamentos tivesse desatado ou rompido ou nem existido.
Talvez tivesse apostado na estratégia errada. Talvez.
Tentou voltar atrás, levantar imediatamente, seguir o comando, costurar tudo outra vez, mas era tarde. O sangue jorrava alto agora, a carne dilacerada, o corte ainda profundo.
Tanto tempo...
Tanta vida...
Tanta gente...
Tanto jeito...
Tanta coisa...
"- Curiosidadezinha mórbida, essa minha!"
Doeu. Mas como todas as dores, tornou-se suportável. Quase ausente. Dormente. Dor mente?
Não sei.
Já não sentia mais nada.
Ponto pra eles.
Ps.: De quando ela esquece o futuro, despreza o presente e insiste no passado.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

*Ouvi por aí*

*Para um amor que se entregou a outro amor*

"- Parece que eu peguei um vestido muito especial - um Armani - e emprestei pra uma amiga. Essa amiga vestiu o vestido e o vestido ficou muito mais bonito nela do que ficava em mim. Daí ela foi pra um festão, sujou o vestido, deixou cair vinho no vestido, lambusou o vestido e o vestido continuou muito mais bonito nela do que ficava em mim." (por Lilia Cabral, no filme Divã)
Porque me pareceu engraçado ver aquilo que eu demorei séculos pra entender traduzido em palavras fictícias e simples.
Uma analogia corriqueira, quase cômica.
A vida é mesmo maluca.
Ps.: Porque pra todo vestido manchado deve haver um olho cego.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

*Do (re)começo*

*2011*
Abandonou o branco aquele ano. Não! Paz não era exatamente o que ela precisava agora. Carecia de mudanças, rápidas. E pra se mudar uma vida, uma cabeça e uma história, dificilmente podemos exigir - de santos ou orixás - o benefício de ter paz. No máximo pedimos coragem porque a estrada é longa e o caminho é árduo. Não há quem se regozije ao ter de dar a volta por cima. Passar por si mesmo e dar o primeiro passo. Começar do começo. Tudo. Sozinha, orgulho na mão, coração sangrando, carregando consigo meias verdades, uma ou duas certezas e um punhado de mentiras.
Então, definitivamente não vestiria branco.
Nem vermelho. Amor parecia-lhe distante e impossível agora. Primeiro era preciso resgatar o amor próprio, então arranhado.
Amarelo seria uma boa pedida. Sempre bom ter mais de três dígitos no banco. Não sabemos o dia de amanhã e dinheiro idealiza estabilidade. Mas as contas íam bem...de certa forma. Nunca tivera medo de trabalhar, isso é fato, logo morrer de fome não ia.
Pensou em verde, azul, laranja, violeta e em todos os seus significados. Analisou o que cada prenda lhe traria de melhor para a nova vida. Riu quando percebeu-se querendo mesmo um pouco de tudo. O novo ano havia de servir para que ela reunisse os cacos de esperança em ser feliz. Construiria uma nova esperança. Bem mais sólida que a anterior. Bem mais sua, também.
Revirou o armário e lá estava a resposta. Vestiria purpurina e paetês! Porque brilham e ela também ansiava recuperar o brilho dos olhos. Porque formam-se de todas as cores e ela queria um pouco de tudo. Porque queria ser vista, estar linda, parecer bem. E conseguiu.
O que ela não sabe é que todos na festa mal repararam na casca. E toda aquela escolha vã, no fim, não foi páreo para a sua alma andando desnuda por entre os convidados.
Abandonou o branco aquele ano. O branco e todas as cores. Passou o reveillon nua de si mesma. Sem culpas, sem remorsos, sem mágoas.
E estava deslumbrante.
Ps.: Pra ela. Porque, de todo o meu coração e com todo o meu amor, eu invejo o tamanho da força que tu tens, minha camaleoa. Toda a sorte do mundo neste 2011!