domingo, 27 de dezembro de 2009

*Do que se aproxima*

* Ano Novo *

Apostou tudo que lhe restara naquele barquinho de madeira.

Ali, depositou um ou dois sonhos que a vida deixou pra mais tarde. Também segredos do ano que se passara: quem sabe uma foto, um anel enferrujado, uma moeda-amuleto. Deixou que as lembranças bem se acomodassem pelos cantos e que os dedos copiassem cada traço daquela esperança.

Amou pela última vez quem devia e suspirou por quem não podia. A eles também reservou um lugar ali dentro, bem ao lado dos sentimentos - estes inquietos, preocupados em ocupar um lugar maior.

Cuspiu as saudades bem ao lado das lembranças e deixou que as lágrimas, antes amargas agora libertas, banhassem o chão que o Amor pisava. Porque o Amor, sim, sempre precisa de um lugar confortável pra brotar dentro da gente.

Fechou os olhos e sentiu um não-sei-o-quê dentro do peito. Achou por bem colocá-lo no barquinho também...devia ele fazer parte do ano que se passara e passado a gente pode abrir mão, pelo simples fato de ser passado. De ter passado.

Quando as lembranças começaram a remar junto às ondas, a saudade atracou-se em seus cabelos.

-Vai saudade...que é hora de dar lugar a novas saudades...

Mesmo assim ela não foi. Saudade teimosa essa, que brinca de se segurar na gente. Que tem medo de ficar no vão do esquecimento.

E o mar tratava de levar tudo o que lhe restara daquele ano: sonhos, lembranças, sentimentos...

E ela ficou ali. Esperando....janeirando uma última esperança...a mesma esperança de todos os anos: a de ser feliz no próximo ano.

Ps.: Porque, sim, eu aposto todas as minhas fichas no ano que vem vindo. Gosto bom tem a incerteza do futuro.

Ps².: No barquinho que eu fiz pra mim eu não botei o Amor. Achei melhor entregá-lo a você, que sabe bem o que fazer dele.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

*Da última vez*

* A carta *
Por saber-se última, tinha cara de adeus.
Papel amarelado, letras mal arranjadas, uma mancha de água e sal aqui e ali. Era a última carta que ele escrevia para ela. E pronto. Ponto (.) Nem mais nem meio mais. "Amor é muito simples de se entender: ou se sente ou não se sente." No fundo ele bem sabia que não era tão fácil assim. Dizer a alguém que o ama transcende o hipotético, reduz os orgulhosos e expõe o mais introspectivo dos homens.
Por isso essa era a última carta. Diria a ela que não importava mais sua reciprocidade ou seu desprezo. Que ele já nem sonhava mais em beijá-la, em tocá-la, em desfilar pelo parque de mãos dadas com ela...que já não lhe importava mais a secretária eletrônica ou checar os emails...que nunca mais sonhara acordado com o seu sorriso ou sentira seu cheiro numa manhã qualquer. Fingiria não lembrar da sua comida preferida, da música balbuciada e daquele filme que a fez chorar. Diria que daqui pra frente o amor seria apagado, arrancado, ou melhor, liquidado do seu peito. Desprendimento tem limite! Poxa! Um homem não pode se expor dessa maneira...como um tolo! O que os amigos diríam??!
A verdade é que ele nem sabia como deixar de amá-la. E a carta, mais uma vez, traduzia um homem apaixonado e temeroso...temeroso do amor, daquele amor incerto, talvez não correspondido, não vivido e não sentido.
E o que seria de um homem sem o seu medo de amar??? Bem....ele seria uma mulher.
E a carta - a última carta - foi para dentro do último livro da última prateleira daquela lojinha no fim da rua, como todas as outras que ele escrevera e não mandara. Que ela servisse para outro amor, de outro alguém, de outra história de amor...porque, bem ou mal, será sempre AMOR.
Ps.: Para aqueles que não enviaram suas cartas e deixaram o amor empalhar no peito. Ainda há tempo!
Ps².: Pra você meu amor, o meu TE AMO mais sincero. Ainda é como na primeira vez.

sábado, 12 de dezembro de 2009

*Gerúndio*

*Das despedidas*

Preciso confessar a você que encostei meu violão. As aulas andavam meio sem graça, meio sem tempo, meio sem ritmo.
Os livros de culinária? Eu os doei. As leituras andavam meio sem sabor e eu nunca quis cozinhar mesmo, se tu queres saber...
Os discos? As fotos? As cartas? Os nós [nós.]? Guardei tudo dentro de uma caixa, lacrei e escondi de mim mesma.
Tive medo que o passado me fingisse ser presente e então eu cairia de novo neste abismo que é você.
Tive medo que se alguma parte minha te lembrasse, tu ainda permaneceria vivo nas lembranças, nesta casa, nos meus sonhos, nesta vida.
Tive medo das palavras que eu guardei necessitarem ir de encontro ao teu ouvido. Pra mastigar um pouco do teu ego, pra pisar em tuas certezas, pra calar tuas frases feitas.
Tive medo da possível descoberta de não me saber sem ti. E esse foi um medo que tu bem soubes fazer brotar em mim. Não amante, mas dependente.
Me desesperei.Te escrevi em mágoa, te envelopei em rancor e te selei um ódio que definitivamente não te cabia. E eu ainda nem sabia...
Odiar-te, hoje, para quê?
Se tu, porta, cadeira, parede, chão não diferem em nada?
Se tu preto, branco, pardo, furta-cor não me és mais vermelho?
Se tu fala, cala, mala, bala não me causa consequência?
Quem tu serias, então? Pra mim que não te enxergo, não te ouço, não te sinto, não teu gosto, não teu cheiro?
Quem tu serias e qual a importância em minha vida, em meu pensamento, em meu empenho de odiar? Sim, porque quem odeia reserva um tempo para o alvo. Para alimentar a raiva, planejar o próximo ataque, formular estratégias...e bom, perdoe-me a sinceridade, mas eu não consigo te encaixar mais em nenhum momento que se passe aqui dentro. Talvez se tu ganhasse o Oscar ou aparecesse no Guiness, quem sabe...talvez não...tenho evitado os holofotes.
O fato é que eu não te guardo rancor, se te consola.
Como sei disso? Basta olhar em mim.
Ódio é vermelho. Tal qual a cor do amor. O que te guardo atende pelo nome "indiferença", e essa tem 'cor de água, cor de ar, cor de nada.'
Ps.: Deixei tuas chaves na portaria. Nem sugiro que pegues...é que troquei a fechadura do coração faz tempo. Não sinto muito.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

*Giz*

"Do mundo sem você"
Tivesse eu congelado todas as imagens e dito todas as coisas que precisavam ser ditas
não te sentiria agora tão distante...numa realidade quase sonho.
Palpáveis todas as vezes em que precisei de um abraço e tu estenderas o colo inteiro,
todas as vezes em que te falei em silêncio
e me fiz em pedaços só pra te franzir o cenho.
Todas as vezes em que ansiei que a dor, quase mastigável, passasse como tu prometeras que um dia passaria.
Tivesse eu dito que não sabia viver sem ti, talvez tu pensasses duas vezes em virar borboleta.
Não que eu ousaria te impedir de voar, mas só em saber do teu pouso na janela, naquelas tardes de domingo, já me bastaria.
Tu sempre soubes que não era fácil....nem impossível. Sempre soubes que a verdade dos anjos resumia-se em disfarçar as asas e fingirem-se meros mortais. E tu me veio como um sonho bom, daqueles de céu azul e flores no jardim.
E eu, à toa na vida, não percebi que o tempo era curto. Foi tão curto.
Talvez por isso o meu coração tenha dado a mão ao teu, e partido do meu peito quando tu disses "Já vou!"
Tivesse eu pedido pra tu ficares, tu tinhas ficado? Para me sorrir com os olhos, para me dizer coisas tolas, para me amar do teu jeito inescrupuloso de amar?
Eu teria pedido?
Talvez não. Sempre soubera que o teu lugar não era aqui. A passagem de pessoas como tu nesse mundo é efêmera...
Quem somos nós pra entendermos o vôo das borboletas?!
Prometes então pousar na minha janela, qualquer dia desses de domingo!
Como saberei que és tu? Verde-esperança nunca caiu tão bem em alguém.
Ps.: "DANI"-se o mundo quando você sorrir!
Ps².: São três anos e as lágrimas ainda são inevitáveis. Saudade dói.