quarta-feira, 27 de maio de 2009

*Das poucas vezes*

*Abandono*

E eu cansei de esperar que as coisas trilhassem o caminho certo
que as cidades submersas de repente apontassem no oceano e ensaiassem um quadro
que o silêncio "quase fanho, sempre mudo" se rompesse em um suspiro
que os braços fossem laços de fita na roupa da menina...
Cansei de esperar que os sonhos não se restringissem a boas lembranças
e que a vida pudesse ser primavera em mês de inverno.
Cansei.
Assim simples, no dia em que a flor nasceu do asfalto.
Ps.: Porque hoje - só hoje - eu peço permissão pra estar triste.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

*Do novo-velho de todo dia*

*Para os escafandristas*
Decidiu adiar o amor.
Assim, subitamente, como se a vida já não tivesse escrito cada qual em seu papel.
Parou o relógio e esperou que o tempo lhe fosse companheiro. O mesmo tempo que mofara as cartas e corroera as lembranças.
" Cuidado, menina, não te afobas que o tempo é traiçoeiro..."
Esperar não era o caso.
Pediu a ele que saísse. Que não levasse tudo, para o caso de uma noite de chuva, mas que fosse sem a certeza do inverno.
Disse-lhe algumas palavras que se perderam em meio ao vão do adeus. Algo sobre saudade, amizade, novos planos. Palavras de um futuro bom, em algum lugar do mundo onde ele não precisasse ouvir a voz dela antes de dormir.
Disse-lhe que tudo ia ficar bem, embora já não o soubesse mais.
"Amores serão sempre amáveis" - já dizia o poeta...
Quando a porta da frente bateu, a alma pediu socorro. Não encontrou. A dor transbordou-lhe a retina e foi banhar seu rosto, sua roupa, seu lar. E foi aí que o tempo, ao invés de correr léguas, lhe trouxe o passado de volta. De bandeja, da mesma forma que tirara.
O primeiro beijo, a primeira jura - "Um táxi por favor" - aquele dia, aquela promessa - "Apartamento 101, segundo andar. Sobe."
E lembrou-se de cada palavra das cartas mofadas e de cada momento que havia esquecido...e dos segredos e dos planos.
"toc toc toc..."
A porta se abre. Por um segundo os olhos se beijam.
-"Oi...é...desculpa, mas é que você esqueceu a escova de dentes."
Do outro lado um sorriso. Tão igual quanto no primeiro dia.
E, finalmente, lembrou-se porquê estava ali.
Agora os olhos diziam:
"Vem amor, que tu já passou tempo demais longe de mim!"



Ps.: O pouco que eu sei do amor é o muito que sinto todos os dias e nele eu vejo que existe, sim, algo nessa vida que pode ser eterno. Pelo menos enquanto dure. Boa sorte a ela que acreditou mais uma vez.

sábado, 2 de maio de 2009

*Dos instantes que eu não quero esquecer*

*Daquele dia*
Enfim disse a ela que a amava.
Não disse assim dizendo, com palavras curtas de significado imenso. Não disse assim como quem diz a previsão do tempo, as horas, ou como quem dá uma aula de etiqueta.
Disse sem dizer, desmazelado. Daquele jeito tão dele, que ela tanto gostava.
A boca muda, as mãos geladas, os olhos embaçados. Quase podia ouvir-lhe as punhaladas do coração no peito, querendo sair. Quem sabe esse não fosse o melhor jeito?! A boca cuspia-lhe o coração fora e este pulsaria nas mãos dela. Vermelho-vivo. Talvez assim ela pudesse entender como ele se sentia, afinal. Talvez essa fosse a forma certa de falar de amor. Ou talvez não.
O silêncio era gritante quando ele pegou-lhe a mão e fitou seus olhos. "Como eu a amo..." pensou enquanto o vento brincava com a saia dela.
As pupilas dilataram-se quando ela chegou mais perto. Ouviu-se apenas o murmúrio:
"Eu também amo você"
E ele continuou mudo.
O sol demorou a sair naquele dia.


Ps.: Porque às vezes tu nada diz e, mesmo assim, eu escuto tudo o que queres dizer.