segunda-feira, 24 de maio de 2010

*Uma vez eu ouvi uma história...*

*Do ponto sem final*

Ela tinha um amor doente.
Não doente assim tipo gripe, sarampo, dor de dente.
Doente, sim, de amor, de velhice, de mesmice. De ciúme, de desejo, de anseio.
Doente de não poder ficar junto.
Doente de querer estar perto.
Doente de ser proibido. De ser ressentido.
Doente assim só por doer, só por saber-se amor-incompleto.
Ela tinha um amor doente.
Desses que a vida põe na gente pra testar o equilíbrio.
Esquizofrênico, patológico, insano.
Desses que os olhos cegam, os ouvidos ensurdecem e as bocas, seladas, emudecem.
Desses de rir com lágrimas, sentir com mágoas e arder com gostos.
Desses de meio-minuto malas arrumadas, meio-segundo roupas estendidas.
Ela tinha um amor doente.
E, um dia, perguntou:
- O que eu faço?
-Eu não sei. Tenta tirar ele daí de dentro, de uma vez. Extirpado como tumor velho, carne morta, fibra seca.
Pela primeira vez os olhos sorriram esperançosos.
De um só golpe arrancou o pedaço de vida do peito, cobrindo-o com as duas mãos. Pulsava, vermelho.
- Toma, guarda contigo.
- MAS VOCÊ ARRANCOU O CORAÇÃO!!!!!
- Achei melhor cortar o mal pela raiz. Pra não correr o risco...um dia eu tinha que ser livre, não?!
E uma luz se apagou dentro dela.
Ela tinha um amor doente. E o que seria da liberdade da alma se o coração, ainda algemado, vivesse?
Tudo tem um preço.
Ps.: Nunca achei que desistir valesse a pena. Mas, muitas vezes, é o que resta pra quem perde as forças. Espero nunca perder as minhas.
Ps².: Esse texto eu dedico a ela, que me perguntou o que fazer do amor que sentia. Eu nunca soube.

sábado, 22 de maio de 2010

*De nada...*

*Além de mim*
Hoje me faltou tudo que vem me faltando nessa vida toda.
De tudo um pouco. Do pouco, o muito.
Mais colorido no cinza. Mais balanço na valsa.
Me faltou aquele sonho esquecido
Me faltou aquele beijo
Me faltou aquele livro
Me faltou aquele encanto
Me faltou aquela viagem inesquecível
Me faltou o jantar à luz de velas
- as rosas e abismos -
e o motel barato na estrada.
Me faltou sentir
Me faltou dizer
Me faltou ser
Me faltou estar.
Me faltou qualquer coisa de preencher vazios. De entreter a cabeça. De seduzir a alma da gente.
E tentada a sair em busca do qualquer, viajei os pensamentos por algum lugar aqui dentro. Ardia ali uma exclamação transvestida de você: nenhuma possível falta me pareceu tão torturante. E se é falta o motivo do meu tédio, digo que a todas suporto. A todas me rendo. Mas não me falte, você, essa noite sem lua. Que eu quero te olhar com as mãos, te cheirar com a boca e te lamber com os olhos. E ver que nada mais importa.
Nada me falta quando você está aqui.
Ps.: Porque pra ser sua basta ser eu. Quero.