quinta-feira, 29 de abril de 2010

*De dores antigas*

*Apenas mais uma de ontem*
Das vezes em que eu quis mandar no tempo contam-se poucas, e não menos importantes, as que desejei voltar atrás em alguma coisa. Não gosto de alimentar arrependimentos do que faço. Sendo o passado indissolúvel, não adiantará chorar por nenhum leite, derramado ou não. Remoer, cobrar-me...para quê, se as palavras ditas já não podem ser engolidas e as bofetadas já arderam? Não descobri uma forma de remediar o que se passou. À minha razão cabe apenas evitar as repetições de erros, quando possível. Quando não, engulo o fado. Resigno-me em achar que, se permaneci no erro, foi de escolha própria. E ponto [.]
Fora isso, prefiro não me arrepender de nada. Nem de ninguém. Nem mesmo daqueles dias, embora às vezes eu sinta tanta vontade de ter feito tudo diferente. Dessas vezes eu guardo a angústia do que não fiz, do que eu não disse. E eu tinha tanto pra dizer! Tanto a destilar, que penso como seria voltar atrás e mudar, eu mesma, o rumo de coisas que meu destino esqueceu de resolver. Seria um "eu" diferente agora? Não sei.
Quando lembro de rugas antigas e elas me fazem deglutir aquele seco que corrói a garganta, desejo ter o dom de voltar no tempo e dessa vez não calar. Dessa vez não permitir que tripudiem do que sinto, porque "o que sinto" sempre foi meu e de mais ninguém. E não há aquele que tenha o direito de tomar do alheio para si e zombar.
Sofri. E nunca neguei o quanto. Tive vergonha, sim, quando a maquiagem desmanchou e vi no espelho o que restara de mim. Tive vergonha quando as lágrimas banharam minha blusa e não achei saída de emergência. Tive vergonha quando o poço não teve fim. Mas eu não tive vergonha alguma na hora de tentar reviver. Na hora de raspar todo o verniz velho pra passar a tinta nova. Na hora que eu achei de cutucar a ferida pra ver se ainda doía. Na hora de reconstruir a caixa de sonhos, que já não existia.
E passou. A dor tinha de passar, um dia, como sei que sempre passa. E volta, quem sabe o amanhã?! Mas dessa vez eu estou de pé e de frente. Viva. Sobrevivente. Se inundar, eu nado. Se incediar, eu aquou. Se ficar, eu mordo. Se correr, eu pego.
O tempo está certo. Se ele voltasse atrás não teríamos a chance de viver, porque tudo seria "flash back". E ninguém, ninguém mesmo, vive do que já se foi. Somente do que ainda pode ser.
"Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei que tens também."
(Andrea Doria - Legião Urbana)
Ps.: Para todas aquelas pessoas que engoliram o próprio ego mastigado por alguém. Dói. Mas sempre passa.
Ps².: Pra ela que precisa de palavras. Ainda sei cantar.

5 comentários:

  1. Me vieram lágrimas aos olhos.
    Sabe, meu bem, é bom saber que as pessoas se importam e que por mais que o mundo não pare enquanto eu junto meus caquinhos, eu sei que tem gente que fica me olhando pra não me deixar ficar no chão.

    E eu já achei de cutucar a ferida pra ver se ainda dói.

    E dói. Mas não tanto quanto eu pensei.
    Beeeeijo.

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  2. Dores antigas resultam em bons posts, pelo menos nesse caso!

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  3. Cazuza, Caio F., Lispector e um monte de palavras sinceras: gostei do blog!

    ;*

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  4. Oi Camila! Venho lhe fazer um convite. Pode parecer meio pretensioso, mas é isso que tenho feito. Todos os dias eu convido algumas pessoas para lerem os meus textos. Eu escrevo é para quem lê mesmo. Bem, na verdade, primeiro eu escrevo pra mim, mas logo depois é para quem for ler. (sorrio). Assim cheguei até você e até todas as pessoas que estão fazendo do meu blog um organismo vivo e cheio de energia.

    Abraço do Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

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  5. Camilla, estou saindo para o trabalho. É a semana que se inicia. Deixo aqui o meu abraço e o sincero desejo de que você tenha uma ótima semana. Obrigado pela atenção e apoio!

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