sábado, 12 de dezembro de 2009

*Gerúndio*

*Das despedidas*

Preciso confessar a você que encostei meu violão. As aulas andavam meio sem graça, meio sem tempo, meio sem ritmo.
Os livros de culinária? Eu os doei. As leituras andavam meio sem sabor e eu nunca quis cozinhar mesmo, se tu queres saber...
Os discos? As fotos? As cartas? Os nós [nós.]? Guardei tudo dentro de uma caixa, lacrei e escondi de mim mesma.
Tive medo que o passado me fingisse ser presente e então eu cairia de novo neste abismo que é você.
Tive medo que se alguma parte minha te lembrasse, tu ainda permaneceria vivo nas lembranças, nesta casa, nos meus sonhos, nesta vida.
Tive medo das palavras que eu guardei necessitarem ir de encontro ao teu ouvido. Pra mastigar um pouco do teu ego, pra pisar em tuas certezas, pra calar tuas frases feitas.
Tive medo da possível descoberta de não me saber sem ti. E esse foi um medo que tu bem soubes fazer brotar em mim. Não amante, mas dependente.
Me desesperei.Te escrevi em mágoa, te envelopei em rancor e te selei um ódio que definitivamente não te cabia. E eu ainda nem sabia...
Odiar-te, hoje, para quê?
Se tu, porta, cadeira, parede, chão não diferem em nada?
Se tu preto, branco, pardo, furta-cor não me és mais vermelho?
Se tu fala, cala, mala, bala não me causa consequência?
Quem tu serias, então? Pra mim que não te enxergo, não te ouço, não te sinto, não teu gosto, não teu cheiro?
Quem tu serias e qual a importância em minha vida, em meu pensamento, em meu empenho de odiar? Sim, porque quem odeia reserva um tempo para o alvo. Para alimentar a raiva, planejar o próximo ataque, formular estratégias...e bom, perdoe-me a sinceridade, mas eu não consigo te encaixar mais em nenhum momento que se passe aqui dentro. Talvez se tu ganhasse o Oscar ou aparecesse no Guiness, quem sabe...talvez não...tenho evitado os holofotes.
O fato é que eu não te guardo rancor, se te consola.
Como sei disso? Basta olhar em mim.
Ódio é vermelho. Tal qual a cor do amor. O que te guardo atende pelo nome "indiferença", e essa tem 'cor de água, cor de ar, cor de nada.'
Ps.: Deixei tuas chaves na portaria. Nem sugiro que pegues...é que troquei a fechadura do coração faz tempo. Não sinto muito.

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