Ela tinha um amor doente.
Não doente assim tipo gripe, sarampo, dor de dente.
Doente, sim, de amor, de velhice, de mesmice. De ciúme, de desejo, de anseio.
Doente de não poder ficar junto.
Doente de querer estar perto.
Doente de ser proibido. De ser ressentido.
Doente assim só por doer, só por saber-se amor-incompleto.
Ela tinha um amor doente.
Desses que a vida põe na gente pra testar o equilíbrio.
Esquizofrênico, patológico, insano.
Desses que os olhos cegam, os ouvidos ensurdecem e as bocas, seladas, emudecem.
Desses de rir com lágrimas, sentir com mágoas e arder com gostos.
Desses de meio-minuto malas arrumadas, meio-segundo roupas estendidas.
Ela tinha um amor doente.
E, um dia, perguntou:
- O que eu faço?
-Eu não sei. Tenta tirar ele daí de dentro, de uma vez. Extirpado como tumor velho, carne morta, fibra seca.
Pela primeira vez os olhos sorriram esperançosos.
De um só golpe arrancou o pedaço de vida do peito, cobrindo-o com as duas mãos. Pulsava, vermelho.
- Toma, guarda contigo.
- MAS VOCÊ ARRANCOU O CORAÇÃO!!!!!
- Achei melhor cortar o mal pela raiz. Pra não correr o risco...um dia eu tinha que ser livre, não?!
E uma luz se apagou dentro dela.
Ela tinha um amor doente. E o que seria da liberdade da alma se o coração, ainda algemado, vivesse?
Tudo tem um preço.
Ps.: Nunca achei que desistir valesse a pena. Mas, muitas vezes, é o que resta pra quem perde as forças. Espero nunca perder as minhas.
Ps².: Esse texto eu dedico a ela, que me perguntou o que fazer do amor que sentia. Eu nunca soube.