* Respostas * Deitados na areia, observavam o mar brincar com a luz do sol.
- Sabe eu acho mesmo que o céu podia ser outra cor além de azul. - virou-se para ela, apoiando-se no cotovelo direito.
- E por que isso agora? Fome?
O sarcasmo sempre fizera parte dos dois e zombar um do outro havia se tornado um novo jeito de se importar.
- Ora, sua tola, não precisa ter um motivo. Eu apenas gosto de pensar que posso mudar as coisas no mundo.
Ele por si só já mudava muita coisa no mundo. Ela bem sabia disso. Teve vontade de dizê-lo, mas não disse. Ao invés disso tirou-lhe a areia escondida entre os cabelos.
- E de que cor seria, então?!
"Podia ser da cor dos seus olhos"- ele quis dizer. Mas não disse. Ao invés disso tomou-lhe a mão e passou a brincar com seus dedos finos.
- Eu não sei...há tantas cores que combinaríam. É difícil escolher. Eu também não preciso mudar tudo sozinho, não é?!
E sorriu.
Sorriu como se nada existisse além daquele instante. Como se o sol tivesse sido feito pra tentar ofuscar, sem sucesso algum, o brilho daquele sorriso. Como se ela não fosse feita de carne e osso. Como se ela ainda soubesse respirar.
Dois segundos a mais e estaria sozinho na praia, um corpo gélido ao lado. Mas ela já se acostumara a sentir-se assim. Era quase um deleite.
"O que ela pensa quando silencia dessa forma?" Ele ficava atônito só de imaginar. Segurando sua mão, ardendo em chamas com o toque de cada dedo delicado dela, sentindo seu cheiro almiscarado trazido pela brisa, ele só conseguia pensar em uma coisa: o que ela faria se eu a beijasse? A última vez que isso acontecera estavam os dois tão absortos que ele não conseguia lembrar em que contexto o beijo chegara. Apenas lembrava do gosto. Nossa! Já fazia tanto tempo e ainda podia senti-la em seus lábios.
- Não, você não precisa. Mas bem que gostaria. Metido!
Quebrado o silêncio, os dois agora ríam como se os pensamentos atormentados não estivessem a ponto de explodirem em "sims" e "nãos". Talvez.
Deitados, um do lado do outro, mãos espalmadas, o galope surdo dos corações dentro do peito. O céu devia ter uma resposta. Ou simplismente eles haviam perdido a coragem de se olhar.
- Você é minha melhor amiga[?].
Não entendeu se aquilo era uma pergunta ou uma afirmação. Apenas assentiu. Os olhos ainda fixos no manto azul chapiscado de branco.
- Você me parece meio nostálgico hoje, não?!
Por que ela fingia não entender? Por que deixava-o tomar todas as iniciativas? Por que calava quando ele precisava ouvir de sua voz que ela também o queria? Já não sabia o que dizer. Maldito aquele que inventara o padrão do primeiro passo masculino. Há tanto tempo ele esperava apenas um gesto, um sinal...
E ela só precisava disso. Um gesto. Um sinal. Como saber se aquele a quem confiara todos os seus defeitos, aquele a quem mostrara-se sem máscaras ou maquiagem alguma, aquele que conhecia todas as suas manias e vícios era também a sua tão esperada personificação de amor?
Como seria tê-lo agora diante dos olhos e tão distante de um beijo, um toque? Da última vez que eles tentaram ela sentiu tanto medo da amizade esvair-se, no entanto tudo permanecera exatamente igual. Talvez ele nem lembrasse mais. Talvez nem sentisse mais.
"Melhor não arriscar"
"Melhor deixar pra lá"
E o mar ia levando os grãos de areia, como quem carrega água em peneira.
Ps.: Entre sim e o não, sempre o TALVEZ. Entre você e eu, sempre a [há!] ESPERANÇA.
Ps.: E todo mundo um dia calou o que sentia e falou o que devia.